O meu avô

O meu avô Altino era o avô que nós íamos visitar todos os meses a Évora. Éramos os netos de Lisboa, filhos do filho mais velho. Vivia com a minha avó numa Casinha nos arredores da cidade, com uma enorme horta onde ele plantava de tudo um pouco e tratava de galinhas e coelhos. Lembro-me de ser pequenina e de dar, com ele ao lado, milho às galinhas e olhar os coelhinhos branquinhos... lembro-me dele me dar mil escudos às escondidas. Sempre mil escudos. Tinha fama de ser o avô poupado, que não gastava um tostão mal gasto. Repetia muitas vezes: "O dinheiro não é de quem o ganha, mas sim de quem o poupa...." Não fez as viagens aos lugares que ele tão bem conhecia por isso. Não foi visitar os animais selvagens de que nos falava, por opção. Adorava ler e já no lar, acompanhava os telejornais e as revistas da actualidade com maior precisão do que eu! Foi o melhor aluno da turma dele e ainda hoje é relembrado por isso. Sabia mais de história e geografia do que muitos especialistas nestas áreas. Um dos presentes que lhe oferecemos e que hoje trouxémos para casa foi um ATLAS que ele adorou e no qual viajava nas páginas... Chamava-me Maria Teresa e quando soube que o bisneto tinha nascido com os olhos azuis iguais aos dele, ficou radiante... Na semana passada, quando lá fomos, pediu-nos rebuçados. O meu pai ainda lhos levou e ele guardou-os debaixo do lençol "não vá algum querer roubar-mos!"... Prestámos-lhe a última homenagem hoje, num dia frio e chuvoso por terras alentejanas. Teve uma boa vida. Não sofreu na morte. Fazia 95 anos daqui a uns meses. Boa viagem, avô... eu gostava mesmo muito de si...