Aurora

A minha avó Aurora era a melhor pessoa do mundo.
Tenho pena pelos meninos e meninas que não puderam ter uma avó como a minha.
Veio viver connosco quando o meu avô morreu, tinha eu 7 anos.
Lembro-me dela me dar o leitinho no biberão, ao colo. E das canções que cantava para eu dormir. E de me perguntar História de Portugal antes dos testes. E de falarmos em inglês, a gozar, em código, que só as duas entendíamos. E de estar sempre do nosso lado, meu e do meu irmão, contra tudo e contra todos. E de se zangar com a minha mãe, filha dela, cada vez que se levantava a voz aos seus meninos, os Reis do Mundo, como ela dizia! Rainha de Montalvão, chamou-me até morrer.
A minha avó Aurora tinha histórias que só ela conhecia e contava. Os nossos olhos brilhavam para descobrir o final. Lembro-me duma história de uma figueira cujos figos se tranformavam em ouro. E de velhas que trepavam montanhas para apanhar flores que curavam meninos doentes.
Usava expressões muito próprias, cómicas até, para chamar os nomes das coisas que ela dizia não conseguir proferir: os croissants eram tarzans e o molotoff era o mata-a-fome.
Ela tinha a mais bela história de amor que alguma vez ouvi. Casou aos 34 anos com o meu avô que já era viúvo. Um dia destes conto a história deles. É linda.
A minha avó era uma companheiraça e sofreu comigo os meus problemas maiores. E recuperou comigo também. E queria que eu arranjasse rapidamente um namorado, porque já era tempo e porque as pessoas não foram feitas para viverem sozinhas. E porque Deus quis assim, vais ver que vais ser muito feliz com outro.
Morreu como um passarinho, quase com 92 anos. E não conheceu o Sr. Piolho mas sei que zela por ele. Sempre.
Hoje, que é dia dos avós, lembro-a com um carinho muito especial. Porque ela era mesmo uma avó especial. Uma pessoa especial. Única.