segunda-feira, junho 13

O outro Vasco

Ontem ainda me aborreci e enervei bastante.
O Sr. Piolho arranjou um amigo lá no Hotel, Vasco como ele, mais velhinho, mas com quem jogou à bola, desceu no escorrega, andou por ali nas correrias...
Às tantas, e eu não percebi mesmo porquê, dei pelo outro Vasco num pranto, com a mãe aos gritos com ele, a puxá-lo pelo braço em jeito de arrastão, a levá-lo para a varanda do quarto que era mesmo de frente para a piscina.
"E agora ficas aí e livra-te de saíres!!!"
O miúdo chorava cupiosamente.
O meu coração começou a bater cheio de pressa...
"Vasco, tu és mal educado e por isso tens que pagar. E se te mexes levas uma tareia!"
Mas isto aos berros...
E o meu coração a acelerar....
E o miúdo a chorar que metia dó.
E o pai dele deitado na espreguiçadeira como se não fosse nada com ele.
O meu Vasquinho no parque com o papá, longe deste espectáculo.
Quando o outro Vasco tentou sair da prisão onde a mãe o tinha posto, aquela mulher entrou para o quarto com o miúdo e só se ouvia chorar.
E eu, que não tenho sangue de barata, de todo, aproximei-me da varanda.
E foi aí que o pai do Vasco 2 se levantou do seu descanso e se sentou na espreguiçadeira.
E eu a ver.
E eles saíram lá de dentro, e o miúdo não parava de chorar.
E começaram a cair lágrimas pela minha cara abaixo.
O papá chegou, percebeu o que se estava a passar, e como ele sabe que eu não me consigo controlar nestas situações, começámos a arrumar as coisas para sair dali e disse-me para me ir embora que ele acabava.
O meu coração ia saindo pela boca e eu só tinha ficado bem com a minha consciência se lá tivesse ido dizer que ela não podia tratar uma criança daquela maneira, que o que estava a fazer tratava-se de um crime público e que podia ir dentro por isso! Ah, e se lhe desse uns safanões a ela também é que tinha sido uma coisa bem feita!
Mas como não fui, dirigi-me à recepção do hotel e pintei a manta ainda mais negra do que era e sei que os senhores tomaram conta da ocorrência e iam ter o assunto vigiado de perto.

De vez em quando lembro-me do outro Vasco, e de como ele deve ser infeliz, e de que não deve ter nem um terço dos mimos que o meu Piolho tem, e que aquela mãe, independentemente do que o miúdo tenho feito ou dito, não merece ter filhos.

Mesmo, mesmo, mesmo.

(suspiro)

1 comentário:

  1. Não assisti à cena, mas por aquilo que dizes a única coisa que eu vejo é uma mãe a gritar com o filho e a pô-lo de castigo (ela nem sequer lhe bateu!). E, obviamente, ele a chorar porque isso não lhe agrada. Não é bom, não é bonito, não é agradável para a criança nem para a mãe.

    Mas a minha opinião é diferente da tua. Aquilo que tu pensas sobre o assunto é do tipo "preto e branco", "certo e errado", descreves um mundo ideal em que não é necessário ralhar com uma criança e em que tudo se resolve com amor. Espero que consigas isso com os teus filhos, sinceramente, e eu também gostava muito de conseguir fazê-lo.

    Talvez venhas a sentir as coisas de um modo diferente quando o teu filho entrar noutra idade, em que tem reacções que tu não esperavas e que não controlas, em que desafia a tua autoridade, não obedece, etc. O que fazer quando eles se viram para ti e dizem "Não!!! Não vou, não faço, não quero!!!! etc etc etc" E tu falas e explicas e tentas dar a volta e respiras fundo 50 vezes para não te desesperares porque acima de tudo ama-los com todo o coração e queres é que eles sejam felizes. Mas também queres que sejam boas pessoas, bem formadas e para isso têm que ter limites e regras e infelizmente têm que ser contrariados em algumas coisas e nem sempre te facilitam a vida. Reagem, teimam, abusam, testam os limites. O que fazer quando depois de toda a conversinha e "catequese" eles continuam a teimar e a desobedecer e até te batem? Isso aconteceu-me com o meu filho mais velho com apenas 3, 4 anos (ele tem agora 4).
    O que fazer? Dizer "não se bate à mamã, não se bate às pessoas, etc. etc"? E quando no meio disso ele continua a expressar a sua revolta e frustração dessa forma (às vezes a frustração é apenas porque, por exemplo, não querem ir para a cama)? Não seremos mesmo obrigados a castigá-los de alguma forma? Fazê-los sentir que esse comportamento é errado? Obrigá-los a parar?

    Dizes mais, que ela não merece ter filhos. Mais uma vez, na minha opinião e face ao que descreveste, não sei o que o miúdo fez, não sei exactamente o que a mãe fez. Mas sei que já muitas vezes tive que ter atitudes com os meus filhos que me partiram o coração, que me custaram e doeram mais a mim do que a eles. E eles têm mimos, muitos mimos, mesmo muitos mimos, meus, do pai, dos avós, da minha empregada que os adora e é como mais uma avó, estão rodeados de amor, mas infelizmente por vezes desencadeiam-se situações em relação às quais temos que actuar de forma menos cor-de-rosa porque não conseguimos dar-lhes a volta de outra forma.

    Ver maltratar uma criança põe-me doente, mas mais uma vez digo, por aquilo que dizes, não vejo a situação que descreves a esse ponto.

    Susana

    ResponderEliminar