segunda-feira, junho 24

Hoje armei-me aos cucos e menti em frente aos meus filhos.


Mas voltava a fazê-lo.
Senão, vejamos:
Chegámos à praia, já passava das cinco da tarde.
Confesso que não fomos antes porque Sodôna Flor decidiu que hoje é que ia dormir uma sesta com mais de 2 horas. E bem dito, bem feito. Dormiu que foi um regalo.
Adiante.
Chegámos à praia já passava das cinco mas o termómetro do meu carro marcava a módica temperatura de 40 graus! qua-ren-ta!!!
Juro que quando lá chegámos e abri a porta do carro passou-me pela cabeça voltar para trás, para o fresquinho da nossa Casa Amarela, mas os miúdos estavam em êxtase para ir brincar e ia ser mauzinho ter que explicar que, sim senhora, chegou o verão que há tanto esperávamos, mas que veio com força demais, por isso ainda não era hoje que íamos à praia.
Assim sendo, tivémos uma sorte daquelas porque estava a sair um carro no melhor lugar do parque de estacionamento, à sombrinha, mesmo como se quer e, Oh Sana nas Alturas!, não é que o senhor que tirou o carro ainda me veio trazer o papelinho do parquímetro que ainda tinha mais duas horas, e não me aceitou nem um centavo!? Ele ainda há gente boa, senhores! Ainda há gente boa....!
Bom, chegados à praia, mochila, lancheira, chapéu de sol, troley dos brinquedos, um pela mão e outra ao colo, escolhemos um sítio para ficar, e começo a ouvir um choro de bebé pequenino. Quem diz pequenino diz aí com uns 4 ou 5 meses, não mais. Ao colo do pai, que estava sentado na toalha, ao sol.
Isso: AO SOL.
Aquela alma estava com um bebé de colo, debaixo de um sol de QUARENTA GRAUS, sem chapéu!!
Eu não aguento.
Eu sou das que não aguenta.
Eu não posso ver uma mãe a dar um safanão ao filho, se calhar com carradas de razão para isso, que não me comece a torcer toda e a ficar nervosa e a querer ir pregar uma lambada na dita.
Não consigo.
É mesmo superior às minhas forças.
Vai daí, levantei-me, e com a maior das latas, disse ao homem:
"Boa tarde, eu sei que não tenho nada a ver com isso, mas como sou médica, tenho responsabilidade social também. Quer deitar o seu bebé debaixo do meu chapéu?"
O homem não estava à espera de uma abordagem destas, ficou um bocado atrapalhado, disse-me que não era preciso, obrigado, que já não iam demorar muito mais tempo e que eu não precisava preocupar-me.
Pronto.
Estragou tudo, pois claro.
"Bom, como lhe disse, é óbvio que me preocupo e parece-me que o senhor não sabe que essa criança pode morrer se desidratar. Ele não fala, não sabe pedir água, não sabe explicar o quão mal se sente por estar aí, ao sol, debaixo de 40 graus. Quero apenas alertá-lo para o risco de vida que está a fazer passar o seu filho (é seu filho?) e informá-lo que bastam uns minutos para que a crinça morra desidratada sem que os pais se apercebam disso."
Bom, o homem lá balbuciou mais um não se preocupe que ela tem bebido água, vamos embora não tarda...
Enfim.
Como devem calcular, não tirei a vista do homem enquanto ele não chamou a mulher, que não cheguei a perceber se era a mãe da bebé ou se era só namorada, mais uma miúda que andava a brincar ao pé da água, e se pôs ao caminho.
Senti que olhou para mim várias vezes, se calhar na expectativa de me ver o crachá (ehehhehe) mas em altura nenhuma fui desagradável com ele ou ele foi mal educado para comigo
Acho que passei a mensagem.
De resto, rumámos à beira mar e por lá ficámos uma hora e meia, pejados de protector solar, sempre com os pés de molho e eles de t-shirt vestida, as minhas lulas...

Rico dia, este.


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