terça-feira, junho 18

Pessoas que nos tocam


Hoje, acho que me cruzei com uma pessoa fenomenal.
Numa escritura.
Cabo verdiano, um metro e noventa.
Discurso fácil, fluído, sem entender muito bem os passos do negócio, mas sempre a questionar, pertinentemente, sem deixar qualquer dúvida em branco.
28 anos.
Acompanhado pela mãe.
Comentámos o tempo, que verão este, e o miúdo na praia, que chatice... 
Sabe, eu sou educador, mas de crianças em risco. Entre os 12 e os 18 anos. 
Claro que lhe disse que seria incapaz de trabalhar num sítio desses, que por certo iria querer trazer a criançada toda para casa...
Ele riu-se e, com um ar sério e preocupado, explicou que muitos daqueles jovens são retirados às famílias, não só por sofrerem agressões mas também porque eles mesmos agridem os pais.
Agridem os pais.
Jovens adolescentes que são retirados aos pais porque lhes batem. Aos pais. Rapazes e também raparigas.
E ainda contou que agora tem lá uma menina, de dez anos, que não teve vaga no grupo da idade correspondente, que foi retiradas aos pais porque a mãe, com sete filhos (se-te-fi-lhos!!!) é vítima de violênvia doméstica. E ela ali chegou, de calções e t-shirt, com um saco de plástico de supermercado com mais umas camisolas e é só. Franzina, não sabe nada da vida. Nunca teve carinho nem qualquer tipo de apoio ou orientação.
Àquele homenzarrão de um metro e noventa, aquela criança tocou e fez pena. E faz-lhe pena saber que é ali que ela vai passar os próximos tempos, no meio de jovens delinquentes e tão más companhias. Que as raparigas de doze anos sabem mais do que muitas mulheres de trinta ou quarenta.
Gostei tanto de conversar com ele...
Vim de coração cheio.
Cabo verdiano, um metro e noventa.
Um amor de pessoa.


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